quarta-feira, 15 de julho de 2009

Cego


Quando queria contemplar a luz tudo se apaga no clarão. Em vias de loucura tornou a buscar os cacos, derramados na rua em seu pedaços. Porções de fala que ecoam pela cabeça, tornam a cefaleia inaceitável. Nada me consola do ato, nada me faz suspirar, tudo é seco, agora é fato. Dentro do vivo fazem-se sementes a todo instante. Junto destas brota o rio. A falta de sentidos me altera, me confunde, chega a me sufocar até a loucura. O fato antes questionável se conclui em verdade árdua e dolorosa, que a cada dia espreme mais, tortura mais, dói mais. Que lágrimas brotam de onde não se capta luz? Que sonhos nascem de sementes mortas? Que dias acabam antes de nascerem? Que vida torna em nó na garganta, arranha o peito e sufoca, apertando, hipoxemiando, matando? Cruel destino de sentimentos, não sei onde este vai parar. Dor lancinante, difusa em corpo, em alma, em vida. Rasga do meu peito a boca, sangra em alegria desfalecida e some ao fim do dia, se apaga no horizonte. É o que deseja aquele incapaz de enxergar, pois deixo-se perder na beleza do que antes se fazia ver, sentir.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

As Vitrines


"Eu te vejo sair por aí

Te avisei que a cidade era um vão

- Dá tua mão

- Olha pra mim

- Não faz assim

- Não vai lá não


Os letreiros a te colorir

Embaraçam a minha visão

Eu te vi suspirar de aflição

E sair da sessão, frouxa de rir


Já te vejo brincando, gostando de ser

Tua sombra a se multiplicar

Nos teus olhos também posso ver

As vitrines te vendo passar


Na galeria, cada clarão

É como um dia depois de outro dia

Abrindo um salão

Passas em exposição

Passas sem ver teu vigia

Catando a poesia

Que entornas no chão"

domingo, 5 de julho de 2009

A brisa


Quando meu inverno acabara e pareciam resurgir no sol de verão um broto de primavera, caiu a primeira folha, e aquela brisa fria voltou a arrepiar-me os pelos a espinha. De novo meu estômago gira e eu aguardo o frio que volta, e ameaça novamente me congelar.

Desta vez vou colocar um casaco.